A venda do BPN ao BIC por 40 milhões de euros não só é um negócio ruinoso para os cofres do Estado como uma ofensa a todos os Portugueses.
Vítor Gaspar, após anos confinado aos corredores e gabinetes cinzentos do BCE, deu azo à sua veia criativa e inventou um novo conceito, “Pagar para Privatizar”.
Atente-se aos detalhes da transacção: o Ministério das Finanças suporta os custos das indemnizações a 750 trabalhadores, o custo do encerramento de diversos balcões e centros de empresa e ainda injecta 550 milhões para recapitalizar o banco. Tudo isto eleva para 2,4 mil milhões de euros o custo da nacionalização. Mais, a proposta do BIC prevê ainda que todo o crédito em risco de incumprimento na carteira do BPN seja assumido pelo Estado. Isto significa que, para além dos 3,9 mil milhões em activos duvidosos que foram entretanto transferidos para as sociedades Parvalorem, Parups e Parparticipadas que por sua vez estão desde Junho sob a alçada do Tesouro, serão transferidos para esses veículos outros créditos malparados, num montante que poderá chegar aos 500 milhões de euros. O BIC paga 40 milhões de euros por um banco devidamente capitalizado, com um balanço livre de activos tóxicos e credito malparado e com uma rede de retalho racionalizada e operacional. Hoje é dia de festa em Luanda...
Não seria melhor a liquidação do banco?. O estado assumia os custos das indemnizações à totalidade dos trabalhadores e accionava o fundo de garantia de depósitos. Seria certamente uma opção menos onerosa para os erário público. Como dizia Scolari: “O parvo sou eu?”
A nacionalização do BPN foi um dos grandes erros da governação socialista. O BPN, por omissão do supervisor, tinha como único objectivo encher os bolsos dos accionistas da SLN, todos eles membros da aristocracia cavaquista (incluindo o próprio Prof. Aníbal). No meu entender, deixar cair o BPN não teria produzido nenhum impacto no sistema financeiro nacional atendendo à sua dimensão e insignificante expressão internacional. A nacionalização foi um erro, este negocio é um erro mas não faz mal. Estamos cá nós para pagar a conta.
Entretanto, a mais recente contratação do “albergue espanhol” do Campo Pequeno (vulgo CGD) dá pelo nome de Rui Machete. É no mínimo uma falta de decoro e bom senso nomear para Presidente da Assembleia Geral da CGD alguém que foi durante muitos anos Presidente do Concelho Superior da SLN...
P.S. Não entendo quem justifica a falta de medidas para corte da despesa com o pouco tempo em funções do Governo. Recordo que o próprio MNE, Dr. Paulo Portas, anunciou ter em sua posse um programa que permitia o corte de 1,7 mil milhões na despesa do Estado em Setembro de 2010. O que foi feito dessas medidas? Como é fácil fazer oposição em Portugal!
Jorge Silva Carvalho, ex-director do SIED, personaliza o parasitismo que infelizmente predomina na Administração Publica. Ao passar informações confidenciais à Ongoing não só quebrou os mais elementares princípios éticos como violou o voto de confiança nele depositado por quem o nomeou. A forma atabalhoada com que contestou a noticia divulgada pelo Expresso revela que além de desonesto era também um péssima escolha para chefiar um órgão de tamanha importância. Mais, ao demitir-se dias antes de uma cimeira de enorme importância para Portugal, desacreditou o serviço que chefiava e em quem os Portugueses confiam a defesa dos interesses nacionais. Ao que parece o motivo para a sua demissão não era o corte nos fundos para o SIED, que alegadamente comprometeriam a sua eficiência, mas sim o excesso de zeros no cheque que lhe foi passado pelos responsáveis da Ongoing.
Se as instancias competentes provarem que houve efectivamente quebra do sigilo profissional por parte de Silva Carvalho, o mesmo deverá ser exemplarmente punido
É perfeitamente normal e aceitável que uma empresa procure recolher informações sobre indivíduos/entidades com quem mantem relações comerciais de forma a mitigar o risco de possíveis “surpresas desagradaveis”. Por ser normal e aceitável, há inúmeras empresas e detectives privados que dentro da legalidade executam esse tipo de serviços...
A nomeação da nova administração da CGD, não fosse um assunto triste para o país e desprestigiante para o Governo, concorreria com o caso Silva Carvalho “007” ao pódio do anedotário nacional. Mais uma vez o Governo prima pela criatividade ao criar um modelo de gestão inédito: Nogueira Leite responderá perante PPC, José de Matos a Vítor Gaspar, Faria de Oliveira a Cavaco e Fernandes Thomaz a Paulo Portas. Pedro Rebelo de Sousa será administrador não executivo adicionando experiencia bancária a uma equipa com provas dadas no sector... No meio de tanta incerteza dois factos podem ser dados como adquiridos: o grupo Mello passará a ser o novo SNS e o litigio entre a Compal e a CGD será resolvido extrajudicialmente....
Ontem, em Assembleia Geral, os accionistas da Portugal Telecom votaram a favor da alteração dos estatutos da empresa pondo fim à famosa “golden share” do Estado. A nova estirpe de ultraliberais que tomou conta do nosso país exultou de alegria. Houve mesmo quem dissesse que o fim dos direitos especiais do Estado permitiria a “limpeza do clã de gestores públicos”.
Tenho sobre este tema uma opinião muito clara. O estado deve manter direitos especiais ou participações qualificadas em empresas vitais ao interesse nacional. Ainda assim, em caso de privatização total, o Estado deve salvaguardar uma remuneração justa pela alienação da sua participação que inequivocamente confere um maior poder aos restantes accionistas privados. Nada disto se verificou...
A ânsia do Governo em cumprir escrupulosamente o acordo com a Troika revela-se prejudicial aos interesses nacionais. Um programa alargado de privatizações, a existir, nunca deveria ocorrer numa altura em que os accionistas portugueses estivessem completamente descapitalizados e em que as cotações das empresas rondassem mínimos históricos. Acabaremos por vender activos – alguns em situação de monopólio natural -de enorme valor económico e estratégico a interesses estrangeiros por valores ridiculamente baixos.
Mais uma vez Portugal não resistiu em tornar-se no “bom aluno Europeu”. Os ultraliberais esquecem-se que a PT não era caso único por essa Europa fora. Atente-se na participação Estatal em companhias de telecomunicações em vários países europeus:
Tal como a Portugal, a comissão europeia instaurou aos respectivos países diversas multas pelo controlo/direitos especiais nas empresas de telecomunicações. A diferença é que nesses países os governos, e bem, assobiam para o ar, pagam a multa e ninguém se chateia. Tinha que ser Portugal a dar o exemplo... Tínhamos de ser nós o aluno lambe botas e cumpridor... Triste sina....
Entretanto, o governo em quem os portugueses depositam tantas esperanças começa a sucumbir aos vícios do costume. O “desvio colossal” não passou de uma manobra de contra informação para justificar o imposto extraordinário. O “Bairraogate” assume contornos graves. As gravatas de A. Cristas são motivo de chacota generalizada.
Por fim o que dizer da nova administração da CGD... PPC defendeu até à exaustão a exclusão dos “boys” e à primeira oportunidade partidariza escandalosamente o maior banco português!!! A nova administração é um saco de gatos pelo que se adivinham confrontos de poder nos tempos vindouros que em nada beneficiarão os clientes do grupo...
P.S: A senda ultraliberal do Banco de Portugal é algo nunca visto...
Numa altura em que a Europa anseia por soluções eficazes e exequiveis para combater a crise da dívida soberana eis que Angela Merkel profere a seguinte declaração relativamente a um possível acordo na cimeira extraordinária de quinta-feira: "...não haverá nenhuma medida espectacular". Creio que a Sra. Merkel ainda não entendeu que a Europa não necessita de espectacularidade nem de magia mas sim de um compromisso dos seus lideres para um novo pacote de ajuda à Grécia e um novo mecanismo de transferência monetária entre países membros.
De acordo com o diário alemão "Tagesspiegel", os próprios dirigentes da CDU, incluindo o ministro das finanças Wolfgang Schauble, esperam que a chanceler abandone a sua posição expectante alegando que um colapso da moeda única poderá revelar-se muito mais oneroso para a Alemanha que um novo resgate grego e um novo modelo de financiamento europeu.
Por um lado entendo aqueles que defendem a participação dos credores privados num novo pacote de ajuda â Grécia. A sua exclusão seria mais um episodio da celebre "privatização dos lucros e nacionalização dos prejuízos" que tem marcado o desenrolar desta crise financeira. No entanto, ao envolver os privados, os custos de financiamento de qualquer país Europeu agravar-se-iam uma vez que os investidores teriam em conta a possibilidade de incorrerem em novas perdas caso houvesse nova restruturação (reprofiling, defaulto que quiserem...). Não é esta a melhor altura para moralismos...
O projecto europeu luta diariamente pela sua sobrevivência. A cada dia que passa, a cada declaração descabida e desconexa respondem os "malvados" mercados com subidas vertiginosas dos custos de financiamento tanto dos periféricos como dos poderosos...
Em Atenas, Papandreou desespera. Em Bruxelas, o "cherne" abandona a sua pose diplomata e alerta, com a dose de dramatismo que a situação exige, para a as consequencias nefastas da não chegada a acordo na cimeira extraordinária de quinta feira. Curioso como a postura das instituições Europeias muda radicalmente assim que os pesos pesados são atingidos pela mira dos mercados e das agencias de rating.
Cá pelo burgo, entre o "Bairraogate", os "desvios colossais" e as gravatas ministeriais a vida decorre com normalidade. Apenas a chuva em Agosto e a despromoção do Benfica à II B poderiam transformar a já habitual rotina da "silly season".
P.S: Alguém me diz qual foi o banco alemão que chumbou nos stress test?
Com a mira dos mercados apontada a Itália, os líderes europeus serão finalmente obrigados a tomar medidas contundentes, caso contrário, o fim da moeda única será inevitável. O autismo do eixo franco-alemão aliado à incompetência das instituições europeias (e respectivos líderes) deixou a maior economia do mundo extremamente vulnerável.
Já ninguém acredita na receita europeia dos pacotes de ajuda “personalizados” como contrapartida a programas de austeridade e ajustamento violentos.
As pretensões eleitorais da Sra.. Merkel e do Sr.. Sarkozy não se podem sobrepor à sobrevivência do projecto europeu.
De facto, o povo alemão, além de egoísta revela uma memória bastante curta. Esquecem-se do London Debt Agreement de 1953 que estabeleceu os prazos e montantes de amortização da divida e das reparações exigidas â Alemanha no final da II guerra mundial (voltarei a este tema com maior detalhe num próximo post). Esse acordo, impôs condições muito favoráveis â Alemanha, nomeadamente o condicionamento de reembolsos ao superavit na balança de pagamentos, taxas de juro muito baixas e prazos alargados (e várias vezes prorrogados). Um país tão poderoso seria de esperar que saldasse rapidamente os seus compromissos. A ultima prestação foi paga em Outubro de 2010.... Sendo assim, quem são os alemães para falar em moral hazard?
Noutro prisma, como já foi referido neste espaço, não serve de nada culpar as agências de rating. É certo que estas coexistem num regime oligopolista obsceno, que não são devidamente escrutinadas e reguladas e que jamais ousariam empregar o mesmo fatalismo e desprezo em avaliações de interesses americanos. No entanto, o seu poder destrutivo resulta da inacção europeia e do inacreditável outsourcing pelo BCE de parte das suas responsabilidades na condução da politica monetária.
No meio de toda esta histeria colectiva espero que o executivo de PPC reveja o seu programa de privatizações e esfrie um pouco a sua demanda liberal. Com os mercados em queda acentuada esta seria a pior altura para levar a cabo tal programa. Acabaríamos por vender activos valiosos, alguns em situação de monopólio natural, a interesses estrangeiros por “tuta e meia”.
Sempre tive enorme consideraçao por Vítor Bento. Como tal, tomo a liberdade de reproduzir neste espaço um texto da sua autoria publicado no blog SEDES. Discurso directo, claro, conciso... Tudo o que tem faltado à liderança do projecto europeu que se vai desmoronando a cada dia que passa. O pensamento deste texto coincide, largamente, com a visao defendida pelo Afonso Eça em posts publicados anteriormente neste blog.
"In 1995, the Exchange Rate Mechanism (ERM) was at the brink of collapse. Market pressure was forcing some countries to raise interest rates to domestically unbearable levels. A succession of devaluations – or even withdraws from the Mechanism – have failed to calm down the markets. And so have the orthodox set of instruments contemplated by the Mechanism.
Collapse was eventually avoided by a bold adoption of a very unorthodox response. Fluctuation margins – set at 2.25% from the central parities – were then allowed to widen to 15%, which, in practice, meant that the Mechanism was suspended in favor of a temporary regime of floating exchange rates. But the solution, unorthodox as it was, succeeded in removing from the system any possible focal point for a speculative attack. (A massive intervention by the Bundesbank in favor of the French Franc – not an orthodox procedure of the German central bank, either –, also helped do deal with the situation).
Without any focal point to polarize possible speculations, market pressures eventually abated and the ERM gradually reverted to its normal rules. Moreover, the nominal convergence required to start the European Monetary Union (EMU) was able to pursue and the euro was created on schedule.
The EMU is now living another exceptional circumstance that can only be properly addressed by getting out of the orthodox framework and resorting to an unorthodox solution.
A group of countries, from the so-called EMU periphery, are now facing an unsustainable financial situation – not only on their public finances, but also on their whole economy –, which is virtually shutting them down from the capital markets. The more unsustainable their situation is perceived, the more their debt yields increase. And the more yields increase, the more unsustainable the situation becomes, replicating the same vicious circle, and self- fulfilling prophecy, faced by the ERM by the mid 90s.
If not contained in time, such a vicious circle will easily spiral and soon most of the system could be driven into its vortex. A cascade of likely sovereign defaults – its end known to none – can then be easily triggered.
Under the present circumstances, and like in 1995, such a vortex can only be stopped if all possible focal points for speculative attacks are removed from the system. And such a purpose can only be achieved by pooling all government financial needs for the next 12-36 months into a single entity, while domestic adjustment programs are given time to work and convince the markets of a reverse of the situation.
For that purpose, a European Fund, guaranteed by all the EMU governments, should be allowed to issue debt on behalf of the European Union up to a very large amount (v.g. €2 trillion). Governments that so wish, and subject to the meeting of certain goals of medium term macroeconomic adjustment programs – previously agreed upon with the European authorities –, could draw quarterly on the Fund to serve their current needs. Failing to meet the goals on time, and until they were met, would disqualify the Government for drawing on the Fund and eventually lead to its “invitation” to restructure their debts. Fund financing should be granted at rates not seen as merely compounding the unsustainability of the underlying situation.
Given such possibility, the number of countries actually resorting to the Fund would end up being relatively limited, turning the Fund’s financial needs much smaller than its authorized borrowing limits. But the destructive vortex could be contained without spreading out of the periphery, the peripheral countries would be allowed time to “clean up” their financial situation and the European authorities would have the time and the peace to prepare a more resilient institutional architecture for the future."
Pena nao ter tido a (coragem) vontade de integrar o executivo de PPC....
Nunca imaginei algum dia vir a concordar com uma ideia/pensamento de Alberto João Jardim. Não aprecio o seu estilo trauliteiro e, por diversas vezes, desejei a independência da Madeira apenas e só para me ver livre desse personagem inqualificável do panorama politico nacional e, quiçá, aliviar um pouco o meu “fardo fiscal” dadas as inacreditáveis contribuições do continente para a construção de hotéis, piscinas, estradas (de muita qualidade diga-se, sobretudo em termos de localização em cima de cursos de agua) ou para o subsidio de jornais de propaganda gratuitos que fariam Goebbels morrer de inveja.
Sucede que ontem, no meio da histeria e revolta colectiva contra as agencias de notação financeira, AJJ, no seu inconfundível estilo bonacheirão de quem acaba de sair de um almoço bem regado, foi a voz mais esclarecida no panorama nacional, e europeu, na polémica do downgrade da dívida nacional para nível junk.
“As agências de rating não entram mais na Administração Publica da região”!! Ora ai está uma solução pragmática e definitiva. Óbviamente, não acredito que seja essa a solução viável num contexto europeu. Contudo, é esta convicção e autoridade que faz falta aos lideres europeus, de forma a esvaziar o poder destas agencias que “levam ao tapete” nações e empresas e que, por diversas vezes no passado, revelaram ser uma “cambada” de “pacóvios incompetentes” tão capazes de analisar o risco de cumprimento como um esquilo abrir um cofre.
O BCE e demais instituições europeias deviam ser responsáveis pelas suas próprias avaliações de risco. Que informação têm os técnicos da Moody's, tranquilos nos seus gabinetes em NY, que o BCE não disponha??? Os lideres europeus falam agora (finalmente) na criação de um agencia de rating europeia. Já vem tarde e não será a solução para o problema a curto prazo, muito menos se for criada sem critério e sob pressão.
Está na altura da Europa encarar o problema da dívida soberana de frente. Esta na altura de parar com o experimentalismo económico na Grécia! Como pudemos, lamentavelmente, constatar, o problema já não é a divida grega ou portuguesa nem o deficit nem a competitividade... O problema é a viabilidade do projecto europeu. Se estar no euro significa ser alvo de chacota dos pelintras das agencias de rating e da sobranceria do eixo franco/alemão que controla as instituições europeias, então prefiro voltar ao escudo! Podia ser duro, muito duro! No entanto, amanha seriamos donos do nosso destino!
P.S 1: Alguém sabe qual é o papel do "cherne" da CE no meio disto tudo?
P.S 2: Alguém conhece as funções do Presidente da UE (nem sei o nome) e de uma tal Baronesa???
P.S 3: Leiam o post do Afonso sobre a proposta francesa para o envolvimento dos privados numa nova ajuda à Grécia. Isso sim é contabilidade criativa!!!
Ao renunciar ao cargo de deputado, Fernando Nobre contribuiu para a degradação da democracia portuguesa, minorando, desprezando, o cargo que lhe foi confiado por um grande número de eleitores lisboetas. Não me surpreende, afinal de contas, Nobre mostrou coerência durante todo o processo: muda de quadrante político e desrespeita o compromisso assumido com os eleitores com a mesma facilidade.
Nobre, por quem eu tinha enorme admiração, revelou uma vaidade e ego político sem limites. Como não foi eleito presidente da AR, cargo para o qual não tinha qualquer tipo de preparação e que utilizaria em beneficio próprio preparando o terreno para uma futura corrida a Belém, recusou ser simplesmente deputado, alegando um imaginário chamamento humanitário para sair de cena.
Fernando Nobre personificou tudo aquilo que tantas vezes repudiou na sua campanha a Belém. Nobre não traiu apenas os eleitores que nele votaram, traiu-se a si próprio sucumbindo à ambição e vaidade manchando uma carreira imaculada de dedicação a causas humanitárias.
Segundo informações veiculadas pela agencia Reuters, a Alemanha pretende adiar para Setembro a decisão relativamente a um novo pacote de ajuda financeira à Grécia. Segundo a mesma fonte, a razão para o adiamento reside na discordância relativamente ao papel dos investidores privados num novo resgate. Os alemães, com o respaldo de finlandeses, eslovacos e holandeses defende a contribuição obrigatória dos credores privados num novo financiamento enquanto BCE, Espanha e Bélgica defendem a contribuição voluntária.
Entretanto, Atenas está a arder... No meu entender, o grande problema já não se prende com a coesão (salvação) da moeda única mas sim com a viabilidade da Grécia enquanto país democrático e soberano. O caos social, depois de 5 planos de austeridade duríssimos sem resultados práticos ameaça tornar a Grécia num país não só insolvente como inviável...
Os gregos falharam porque viveram muitos anos acima das suas possibilidades, porque manipularam as suas contas (com ajuda de grandes bancos de investimento internacionais a quem ninguém pede satisfações), porque acumularam uma serie de benesses e direitos que levaram à falência do país... Enfim, um verdadeiro "regabofe" alimentado a crédito fácil concedido pela banca, depois utilizado a comprar Mercedes e outros bens de consumo oriundos da Baviera. A sucessão de erros e de "empurrões com a barriga" deixou os helénicos na situação de bancarrota, sujeitos a humilhação constante da imprensa anglo-saxónica, das inenarráveis agencias de rating e dos próprios parceiros europeus que, contrariando todos os princípios de soberania nacional, se querem encarregar das privatizações a preço de saldo (que beneficiarão outras empresas, adivinhe-se de que países....)
A Grécia, apesar de todos os erros, foi vitima da mais atroz falta de solidariedade europeia e experimentalismo economico. Neste momento, tem um pé fora do euro... Resta saber quem se seguirá...
O acto eleitoral de maior importância na história recente do nosso país, ficará para sempre marcado pela campanha mais absurda, cobarde e anedótica de que há memória. Durante 15 dias, nenhum dos partidos se atreveu a discutir as medidas consagradas no acordo com a “Troika”. Preferiram o ataque pessoal, a (des)culpabilizaçao, as arruadas, os comícios e as jantaradas com militantes. Nesta campanha tem-se visto um pouco de tudo, desde paquistaneses do Martim Moniz a apoiarem Sócrates em Évora, Passos Coelho a oferecer uma “enxadinha” a uma popular descontente, pancadaria em arruadas, ameaças a jornalistas e, como não poderia deixar de ser, Paulo Portas a correr as feiras deste país oferecendo sorrisos e bebendo “minis”...
No dia 5 de Junho Portugal voltará a entrar no livro do Guiness, desta vez não pelo maior pão com chouriço do mundo, mas por ter eleito um PM que aparentemente fez tudo para que isso não acontecesse. A campanha de Passo Coelho roçou o ridículo. Desde a escolha de Fernando Nobre, passando pelas declarações de Catroga e terminando com a polémica do número de ministros, tudo saiu errado. Noutro contexto, Passos Coelho arriscaria levar o PSD ao pior resultado da sua história, tal é a sua inépcia e viscosidade política. Passos é um político que fala durante a tarde de acordo com as notícias da manha... Não tem o mínimo sentido de estado nem a mínima ideia do que quer para o país. Tentou ganhar votos a direita com o aborto para logo depois virar à esquerda e se tornar um defensor do estado social. O programa do PSD é de um experimentalismo ideológico atroz... Os que o rodeiam não inspiram nenhuma credibilidade... Os próprios barões do partido não o apoiam (veja-se Pacheco Pereira ou Manuela Ferreira Leite que afirmou que o importante era derrubar Sócrates).
Sócrates perdeu as eleições porque, injustamente, lhe foi imputado (com a inenarrável conivência dos media) todo o ónus da situação terrível em que o país está mergulhado. Em alguns meses toda a gente se esqueceu do Simplex, das Novas Oportunidades, do Magalhães e do E-Escolas, do Tratado de Lisboa e, mais recentemente, do inédito acordo com todos os parceiros sociais. Em poucos meses, Sócrates passou de PM de Portugal a responsável pela falência da Lehman Brothers, pela crise do subprime americano e pelo ataque especulativo ao euro... O grande erro de Sócrates foi minimizar os impactos da crise internacional na economia nacional e ter cedido a tentações eleitoralistas em 2009. Sócrates está cansado, já não exala a confiança de outrora nem tem a mesma capacidade de mobilização. Não esqueçamos os ataques cobardes de que Sócrates foi vitima: o caso Freeport, o caso TVI, o caso Independente, a alegada homossexualidade enfim... Um rol extenso de assassinatos de carácter. E em todos eles ficou provada a sua inocência, para desespero da matilha de detractores.
Paulo Portas arrisca-se a ter o seu melhor resultado de sempre. Tem feito uma campanha “certinha”, sem se comprometer em matérias fracturantes, jogando sempre nos dois lados do tabuleiro deixando todas as janelas de oportunidade em aberto. O programa do CDS é um manancial de boas intenções mas sem nenhuma indicação quanto à sua aplicação prática. Portas pisca o olho aos militares e aos agricultores enquanto se coloca estrategicamente a esquerda do PSD, capitalizando no radicalismo liberal que tomou posse da Santana à Lapa. Os seus passeios pelas feiras são ridículos. Mostram Portas, um menino de família, fazendo um esforço indescritível para passar por plebeu, fazendo figuras ridículas e chegando a casa com o seu fato de marca a cheirar a sardinha e os sapatos cheios de bosta e palha...
Não me pronuncio quanto ao BE e ao PCP porque nenhum me merece esse tipo de consideração. Ao recusarem-se a reunir com a “Troika” não estavam a ser fieis ao seu eleitorado ou à sua ideologia. Estavam a afirmar-se como forças politicas inúteis, incapazes de contribuir para a definição do futuro do nosso pais. Num mundo perfeito, ambos os partidos teriam direito a um boletim à parte, para fazer de conta que interessavam para alguma coisa.
Entristece-me a falta de alternativas no nosso panorama político. Sócrates falhou e não mereceria voltar a ser PM caso se apresentasse um alternativa coerente... Sendo assim resta aos portugueses votar no que considerem ser o mal menor...