Segundo informações veiculadas pela agencia Reuters, a Alemanha pretende adiar para Setembro a decisão relativamente a um novo pacote de ajuda financeira à Grécia. Segundo a mesma fonte, a razão para o adiamento reside na discordância relativamente ao papel dos investidores privados num novo resgate. Os alemães, com o respaldo de finlandeses, eslovacos e holandeses defende a contribuição obrigatória dos credores privados num novo financiamento enquanto BCE, Espanha e Bélgica defendem a contribuição voluntária.
Entretanto, Atenas está a arder... No meu entender, o grande problema já não se prende com a coesão (salvação) da moeda única mas sim com a viabilidade da Grécia enquanto país democrático e soberano. O caos social, depois de 5 planos de austeridade duríssimos sem resultados práticos ameaça tornar a Grécia num país não só insolvente como inviável...
Os gregos falharam porque viveram muitos anos acima das suas possibilidades, porque manipularam as suas contas (com ajuda de grandes bancos de investimento internacionais a quem ninguém pede satisfações), porque acumularam uma serie de benesses e direitos que levaram à falência do país... Enfim, um verdadeiro "regabofe" alimentado a crédito fácil concedido pela banca, depois utilizado a comprar Mercedes e outros bens de consumo oriundos da Baviera. A sucessão de erros e de "empurrões com a barriga" deixou os helénicos na situação de bancarrota, sujeitos a humilhação constante da imprensa anglo-saxónica, das inenarráveis agencias de rating e dos próprios parceiros europeus que, contrariando todos os princípios de soberania nacional, se querem encarregar das privatizações a preço de saldo (que beneficiarão outras empresas, adivinhe-se de que países....)
A Grécia, apesar de todos os erros, foi vitima da mais atroz falta de solidariedade europeia e experimentalismo economico. Neste momento, tem um pé fora do euro... Resta saber quem se seguirá...
O acto eleitoral de maior importância na história recente do nosso país, ficará para sempre marcado pela campanha mais absurda, cobarde e anedótica de que há memória. Durante 15 dias, nenhum dos partidos se atreveu a discutir as medidas consagradas no acordo com a “Troika”. Preferiram o ataque pessoal, a (des)culpabilizaçao, as arruadas, os comícios e as jantaradas com militantes. Nesta campanha tem-se visto um pouco de tudo, desde paquistaneses do Martim Moniz a apoiarem Sócrates em Évora, Passos Coelho a oferecer uma “enxadinha” a uma popular descontente, pancadaria em arruadas, ameaças a jornalistas e, como não poderia deixar de ser, Paulo Portas a correr as feiras deste país oferecendo sorrisos e bebendo “minis”...
No dia 5 de Junho Portugal voltará a entrar no livro do Guiness, desta vez não pelo maior pão com chouriço do mundo, mas por ter eleito um PM que aparentemente fez tudo para que isso não acontecesse. A campanha de Passo Coelho roçou o ridículo. Desde a escolha de Fernando Nobre, passando pelas declarações de Catroga e terminando com a polémica do número de ministros, tudo saiu errado. Noutro contexto, Passos Coelho arriscaria levar o PSD ao pior resultado da sua história, tal é a sua inépcia e viscosidade política. Passos é um político que fala durante a tarde de acordo com as notícias da manha... Não tem o mínimo sentido de estado nem a mínima ideia do que quer para o país. Tentou ganhar votos a direita com o aborto para logo depois virar à esquerda e se tornar um defensor do estado social. O programa do PSD é de um experimentalismo ideológico atroz... Os que o rodeiam não inspiram nenhuma credibilidade... Os próprios barões do partido não o apoiam (veja-se Pacheco Pereira ou Manuela Ferreira Leite que afirmou que o importante era derrubar Sócrates).
Sócrates perdeu as eleições porque, injustamente, lhe foi imputado (com a inenarrável conivência dos media) todo o ónus da situação terrível em que o país está mergulhado. Em alguns meses toda a gente se esqueceu do Simplex, das Novas Oportunidades, do Magalhães e do E-Escolas, do Tratado de Lisboa e, mais recentemente, do inédito acordo com todos os parceiros sociais. Em poucos meses, Sócrates passou de PM de Portugal a responsável pela falência da Lehman Brothers, pela crise do subprime americano e pelo ataque especulativo ao euro... O grande erro de Sócrates foi minimizar os impactos da crise internacional na economia nacional e ter cedido a tentações eleitoralistas em 2009. Sócrates está cansado, já não exala a confiança de outrora nem tem a mesma capacidade de mobilização. Não esqueçamos os ataques cobardes de que Sócrates foi vitima: o caso Freeport, o caso TVI, o caso Independente, a alegada homossexualidade enfim... Um rol extenso de assassinatos de carácter. E em todos eles ficou provada a sua inocência, para desespero da matilha de detractores.
Paulo Portas arrisca-se a ter o seu melhor resultado de sempre. Tem feito uma campanha “certinha”, sem se comprometer em matérias fracturantes, jogando sempre nos dois lados do tabuleiro deixando todas as janelas de oportunidade em aberto. O programa do CDS é um manancial de boas intenções mas sem nenhuma indicação quanto à sua aplicação prática. Portas pisca o olho aos militares e aos agricultores enquanto se coloca estrategicamente a esquerda do PSD, capitalizando no radicalismo liberal que tomou posse da Santana à Lapa. Os seus passeios pelas feiras são ridículos. Mostram Portas, um menino de família, fazendo um esforço indescritível para passar por plebeu, fazendo figuras ridículas e chegando a casa com o seu fato de marca a cheirar a sardinha e os sapatos cheios de bosta e palha...
Não me pronuncio quanto ao BE e ao PCP porque nenhum me merece esse tipo de consideração. Ao recusarem-se a reunir com a “Troika” não estavam a ser fieis ao seu eleitorado ou à sua ideologia. Estavam a afirmar-se como forças politicas inúteis, incapazes de contribuir para a definição do futuro do nosso pais. Num mundo perfeito, ambos os partidos teriam direito a um boletim à parte, para fazer de conta que interessavam para alguma coisa.
Entristece-me a falta de alternativas no nosso panorama político. Sócrates falhou e não mereceria voltar a ser PM caso se apresentasse um alternativa coerente... Sendo assim resta aos portugueses votar no que considerem ser o mal menor...