Ontem, em Assembleia Geral, os accionistas da Portugal Telecom votaram a favor da alteração dos estatutos da empresa pondo fim à famosa “golden share” do Estado. A nova estirpe de ultraliberais que tomou conta do nosso país exultou de alegria. Houve mesmo quem dissesse que o fim dos direitos especiais do Estado permitiria a “limpeza do clã de gestores públicos”.
Tenho sobre este tema uma opinião muito clara. O estado deve manter direitos especiais ou participações qualificadas em empresas vitais ao interesse nacional. Ainda assim, em caso de privatização total, o Estado deve salvaguardar uma remuneração justa pela alienação da sua participação que inequivocamente confere um maior poder aos restantes accionistas privados. Nada disto se verificou...
A ânsia do Governo em cumprir escrupulosamente o acordo com a Troika revela-se prejudicial aos interesses nacionais. Um programa alargado de privatizações, a existir, nunca deveria ocorrer numa altura em que os accionistas portugueses estivessem completamente descapitalizados e em que as cotações das empresas rondassem mínimos históricos. Acabaremos por vender activos – alguns em situação de monopólio natural -de enorme valor económico e estratégico a interesses estrangeiros por valores ridiculamente baixos.
Mais uma vez Portugal não resistiu em tornar-se no “bom aluno Europeu”. Os ultraliberais esquecem-se que a PT não era caso único por essa Europa fora. Atente-se na participação Estatal em companhias de telecomunicações em vários países europeus:
Tal como a Portugal, a comissão europeia instaurou aos respectivos países diversas multas pelo controlo/direitos especiais nas empresas de telecomunicações. A diferença é que nesses países os governos, e bem, assobiam para o ar, pagam a multa e ninguém se chateia. Tinha que ser Portugal a dar o exemplo... Tínhamos de ser nós o aluno lambe botas e cumpridor... Triste sina....
Entretanto, o governo em quem os portugueses depositam tantas esperanças começa a sucumbir aos vícios do costume. O “desvio colossal” não passou de uma manobra de contra informação para justificar o imposto extraordinário. O “Bairraogate” assume contornos graves. As gravatas de A. Cristas são motivo de chacota generalizada.
Por fim o que dizer da nova administração da CGD... PPC defendeu até à exaustão a exclusão dos “boys” e à primeira oportunidade partidariza escandalosamente o maior banco português!!! A nova administração é um saco de gatos pelo que se adivinham confrontos de poder nos tempos vindouros que em nada beneficiarão os clientes do grupo...
P.S: A senda ultraliberal do Banco de Portugal é algo nunca visto...