Quarta-feira, 27 de Julho de 2011
Golden Shares

Ontem, em Assembleia Geral, os accionistas da Portugal Telecom votaram a favor da alteração dos estatutos da empresa pondo fim à famosa “golden share” do Estado. A nova estirpe de ultraliberais que tomou conta do nosso país exultou de alegria. Houve mesmo quem dissesse que o fim dos direitos especiais do Estado permitiria a “limpeza do clã de gestores públicos”.

 

Tenho sobre este tema uma opinião muito clara. O estado deve manter direitos especiais ou participações qualificadas em empresas vitais ao interesse nacional. Ainda assim, em caso de privatização total, o Estado deve salvaguardar uma remuneração justa pela alienação da sua participação que inequivocamente confere um maior poder aos restantes accionistas privados. Nada disto se verificou...

 

A ânsia do Governo em cumprir escrupulosamente o acordo com a Troika revela-se prejudicial aos interesses nacionais. Um programa alargado de privatizações, a existir, nunca deveria ocorrer numa altura em que os accionistas portugueses estivessem completamente descapitalizados e em que as cotações das empresas rondassem mínimos históricos. Acabaremos por vender activos – alguns em situação de monopólio natural -de enorme valor económico e estratégico a interesses estrangeiros por valores ridiculamente baixos.

 

Mais uma vez Portugal não resistiu em tornar-se no “bom aluno Europeu”. Os ultraliberais esquecem-se que a PT não era caso único por essa Europa fora. Atente-se na participação Estatal em companhias de telecomunicações em vários países europeus:

  • Deutsche Telecom (32%)
  • France Telecom (27%)
  • Telenor (58%; Noruega)
  • Telesonera (51%; Finlândia e Suécia)
  • OTE (10%; Grécia)
  • Belgacom (53%)
  • P&T Luxembourg (100%)
  • Telekom Austria (28%)
  • Cyta (100%; Chipre)

Tal como a Portugal, a comissão europeia instaurou aos respectivos países diversas multas pelo controlo/direitos especiais nas empresas de telecomunicações. A diferença é que nesses países os governos, e bem, assobiam para o ar, pagam a multa e ninguém se chateia. Tinha que ser Portugal a dar o exemplo... Tínhamos de ser nós o aluno lambe botas e cumpridor... Triste sina....

 

Entretanto, o governo em quem os portugueses depositam tantas esperanças começa a sucumbir aos vícios do costume. O “desvio colossal” não passou de uma manobra de contra informação para justificar o imposto extraordinário. O “Bairraogate” assume contornos graves. As gravatas de A. Cristas são motivo de chacota generalizada.

 

Por fim o que dizer da nova administração da CGD... PPC defendeu até à exaustão a exclusão dos “boys” e à primeira oportunidade partidariza escandalosamente o maior banco português!!! A nova administração é um saco de gatos pelo que se adivinham confrontos de poder nos tempos vindouros que em nada beneficiarão os clientes do grupo...

 

P.S: A senda ultraliberal do Banco de Portugal é algo nunca visto...



publicado por HGjr às 10:20
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1 comentário:
De Afonso Eça a 27 de Julho de 2011 às 11:30
No que respeita Privatizações, fins de Golden shares etc...penso que o actual Governo ficou refém do que foi acordado com a troika. Preocupa-me mais a ânsia de realizar receita privatizações e mais impostos) quanto antes e ver pouca coisa do lado do corrente da despesa corrente.

Mais uma vez, repetindo o que já disse neste blog, é essencial o cumprimento do acordo com a Troika, para tal alguma "agitação" será normal - agora estava a espera que esta surgisse porque o Governo estava a tomar medidas difíceis de redução de despesa - e não porque ou nomeava quadros controversos para a CGD (que como banco público podia e devia ter um papel fundamental para a resolução dos nossos problemas) ou porque recorria a mesma receita que temos utilizado em anos anteriores receita extraordinária para tapar buracos de despesa corrente...

Parece- me que o Governo está algo apático face aos problemas que enfrentamos: mostramo-nos muito mais preocupados em cumprir o plano para que alguém nos venha salvar caso seja necessário um segundo "bailout" do que em cumprir o plano e ficarmos com as ferramentas e a base para resolvermos por nós próprios futuras dificuldades.


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